segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quarto de hotel.


Sasha Grey in The Girlfriend Experience
 
Ela é do meu concurso. Estamos dividindo o mesmo quarto de hotel nessa missão. É bom que vocês saibam que a minha história na polícia é um "Conto de Fadas" perto de "A Hora do Pesadelo III" que foi o que ela passou na primeira lotação.  Teve uma depressão ~daquelas~ logo que chegou lá, e quase levou uma punição por conta disso (depressão é um motivo alegado com alta frequência nos pedidos de remoção, logo, atrai certa desconfiança); se envolveu com o cara errado; sofreu um acidente sério, não necessariamente nessa ordem, mas enfim, ela se machucou bastante. Agora parece que o pior já passou e ela me conta tudo, embora mantenha um ar longínquo, exceto quando chora. Eu gosto dela. Ela conhece todas as novidades sobre cremes, makes e produtos para o cabelo. Tornou-se meu referencial teórico nessa área.  Está fazendo uma pós em Direito Processual Civil (autopunição? rs). Contudo, o que ela não sabe, nem precisa saber, é que eu sou amiga da mulher do cara por quem ela ainda sofre.

sábado, 20 de abril de 2013

Voz de prisão.


 
Acho que a parte de lidar com preso é a mais difícil pra mim. A primeira vez que entrei numa carceragem não consegui ficar lá nem cinco minutos. Quase passei mal. Havia uns cinquenta presos atrás das grades de umas dez celas, talvez. Não me lembro direito, até porque eu não conseguia sequer olhar diretamente pra eles. Pelo contrário, os olhares lascivos deles é que me fuzilavam por todos os ângulos possíveis. Me sentia como um frango assado desfilando num canil. Eu tinha duas opções: ou encarava de volta até o preso olhar pra outro lado; ou fingia que o preso não era gente, mas um pedaço de carne ignorável (atitude tomada por 99% da sociedade).
 
Resultado: dei meia volta e saí da carceragem. Eu? Encarar um preso??? Melhor não, porque se não funcionasse eu iria fazer o quê? Entrar na cela e bater nele pra ele nunca mais olhar para uma mulher policial daquele jeito? Gente, eu morro de timidez e não consigo encarar nem quem eu tô paquerando... E se o preso sorrisse pra mim e eu sorrisse de volta? Ferrou!
 
A-gente não pode se dar ao luxo de ter conflitos interiores. É resolver logo e cumprir a missão.
 
Então, uma grande parte de nós opta pela segunda opção. É por isso que tantos policiais são marrentos. Por que você acha que polícia adora óculos de sol? Mas Renato Russo estava certo: "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira" e toda prisão que faço, sem exceção, é uma tortura. Não dá pra ignorar que ali tem um ser humano. O cheiro, o choro, a textura da pele, o olhar deles é de um ser humano, igualzinho a mim. Mas como um outro ser humano comete um crime desses?
 
Por mais que eu evite conversar com o preso e saber menos, pra sofrer menos... não adianta. Outro dia, dei um sermão de meia hora num preso, porque, durante a busca domiciliar encontrei um Certificado de Reservista onde constava que ele havia servido a Força Aérea Brasileira. Em suma, eu queria saber do preso como ele poderia ter mudado de lado depois de todo o treinamento militar que ele recebeu. O preso chorou tanto de arrependimento... que bem poderia me acusar de tortura psicológica. Agora é tarde, soldado.
 
Recentemente prendi um pastor evangélico que estava fazendo a coisa certa, porém da forma errada. Na delegacia ele pagou fiança e foi embora. Não sem antes passar por mim e dizer: "a Bíblia diz que feliz é aquele que for preso pelo nome de Jesus". Eu não vou discutir as leis de Deus com um pastor que desconhece as leis dos homens. Não sou eu quem faz as leis, Reverendo. Eu cumpro a lei, por mais idiota que ela seja. E não fui eu quem colocou o Tiririca lá... Mas se não estou enganada, quando Jesus estava sendo preso, Pedro, que parece que era meio metido a segurança particular, sacou sua espada (é galera, São Pedro andava armado!) e feriu a orelha do agente que estava cumprindo o mandado de prisão!!! Não sei o que aconteceu com o agente na hora, se desmaiou, se a dor tava demais... O que sei é que, contrariando todas as normas de segurança, ele deixou o preso (Jesus) tocar na orelha dele e isso sarou o ferimento na hora... 
 
Fica a mensagem que serve tanto para os policiais feridos quanto pra quem me julga. Pra mim, quando Jesus disse aos religiosos "quem não tem pecado atire a primeira pedra" era como se dissesse "não vai subir ninguém", do Capitão Nascimento. Porque no fundo, somos todos iguais, o que nos diferencia é o toque de Jesus.

sábado, 6 de abril de 2013

Não me representa.


 
*AGENTE POLICIAL NERVOSA* entra na sala: Quando a gente usa as algemas tem que justificar para o Supremo. Quando não usa tem que justificar para os colegas. Me encanta a pessoa que reclama da falta de liberdade de decisão criticando a liberdade de quem decidiu diferente. Wake me up quando a militância das algemas ends.