Pela primeira vez na vida subi uma favela ("não-pacificada"). Estávamos dando proteção aos agentes de outra instituição pública que precisavam subir lá pra realizar uma tarefa. Viaturas, armamento pesado e indumentária ostensiva. Experiência inesquecível! A propósito, acho que Isabella está apaixonada pelo Bush, um Fuzil AR-15 que tem andado com a gente. Uma gracinha! Encaixa certinho no corpo, é leve, super confiável, bonitão, imponente e aquela bandoleira lhe confere um charme todo especial! Só é um pouco nervoso, ele. Quando irritado... tsic, tsic, tsic, sai da frente, porque o estrago é grande.
Dia desses houve uma operação policial de tráfico sanguinolenta nesta mesma favela, da qual não participei. Houve confronto, tiroteio e tal. Não sei se voltar lá nesse contexto seria melhor ou pior. Pra ser bem sincera, eu não entendo nada de favela e nem tenho treinamento adequado para operar em favela.
Se eu tive medo? Tive. Especialmente no momento em que soube da missão. Medo e inveja do colega escrivão que ficaria na base, pois só começaria o trabalho dele quando a gente terminasse o nosso. Aliás tenho mais medo de não ter medo, do que das causas do medo em si, porque o medo é parceiro. Ajuda a gente a continuar vivo. Só que este foi um medo diferente que eu não conhecia até então. Eu não sei não, mas tenho a impressão de que estou me acostumando com esse negócio de correr riscos, tanto que o medo "parece" não ter mais tanto efeito. Sabe o que é ter plena consciência de que você vai cumprir missão na "Faixa de Gaza" mas não dá tanta importância ao fato em si? É, porque "dar a devida importância ao fato em si" no meu caso, significa se trancar em alguma cela da custódia na hora da saída e engolir a chave repetindo o mantra: "Não vou, véi! Nem de blindado, véi!".
Mas fui. Não chorei. Não desmaiei. Não tive nenhum desarranjo intestinal (ocorre bastante, nas melhores polícias). E deu tudo certo. Ao mesmo tempo que foi super rápido demorou uma eternidade. Quando retornamos notei que o mundo continuava igual. Aquilo tudo lá, não foi nada demais. Não deu no jornal, não houve faixa de boas vindas na recepção, ninguém nos deu os parabéns... Ora, policiais arriscam as suas vidas todos os dias. Onde está a novidade nisso? A maioria dos próprios colegas nem ficou sabendo que nossa equipe esteve lá. Só houve um novinho que me encontrou à noite malhando na academia e perguntou bastante interessado. "E aí, Novinha, como é que foi lá na favela". Eu sorri pra ele e não sei por que, mas até eu respondi sem muita empolgação: "Tranquilo".