quarta-feira, 14 de março de 2018

Dica nº 5 - Aprenda a resistir.

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"Ninguém vai bater tão forte como a vida,
mas não se trata de bater forte.
Se trata de quanto você aguenta apanhar e seguir em frente,
 o quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando".
(Rocky Balboa)

 Já falarmos sobre a necessidade de um policial ter preparo físico, mental, psicológico, tático e fazer um bom trabalho profissional, certo. Aí você pensa: "Nossa, alguém com tantos pré-requisitos, vai logo se dar muito bem". Hum... não é bem assim, não. Uma pessoa tão bem preparada certamente vai incomodar os acomodados de plantão e vai virar alvo, rapidinho. Aliás, incomodar é intrínseco da profissão policial. Porque é estranho um policial que não incomoda, né? Precisamos falar sobre isso.

Primeiro - Não deixe que as pressões do dia-a-dia deformem o seu caráter. 

Na vida real, mesmo sendo um excelente policial, não raro você será acusado injustamente pelo preso de ter usado de violência para com ele. Maus advogados vão dizer, indevidamente, que você trapaceou na coleta das provas. O juiz, que não conhece nada de sobrevivência policial, vai dizer que você deveria e poderia ter pensado melhor naqueles rápidos 2 ou 3 segundos que você teve para reagir diante de uma ameaça à sua vida. Você vai se decepcionar com muita coisa, e com muitas pessoas. Não permita que as decepções no dia a dia transformem você em algo que você não é. Na física, aprendemos que alguns corpos possuem uma certa propriedade que lhes permitem retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Isso se chama resiliência.
Segundo - Não se deixe irritar por coisas que você não tem controle.

Muitas vezes, mesmo que você se esforce pra ser um cara disciplinado alguns dos seus próprios colegas vão te chamar de "engessado". Se você demonstra respeito pela hierarquia, vão te chamar de "puxa-saco" ou de "covarde". Vão dizer que você é um "Policial Nutela", porque você malha, treina, e cuida da sua alimentação. Tudo isso, pra alguns, é "pura viadagem"; Vão te apelidar de "teoricão" se você estuda os procedimentos e realmente conhece as leis e a doutrina. Quando quiser fazer um trajeto mais seguro, ou parar a viatura num local mais adequado, vão dizer em coro "relaxa novinho". O que dizem a seu respeito não pode ter mais força do que aquilo que você realmente é. No Judô, você aprende a usar a força adversária a seu favor. Um galho enrijecido quebra fácil com o peso da neve, mas o galho maleável, se flexiona e deixa a neve cair, permitindo que o galho volte ao normal. Assim, não absorva a adversidade, deixa-a passar por ti e siga o seu caminho. Portanto, não gaste energia com aquilo que não vai te trazer retorno algum. Uma hora vai perder a graça e vão parar de falar. Você é quem sabe onde quer chegar.

Terceiro - Controle suas expectativas

Em outras palavras, não se iluda. Muitos chefes não estão nem aí e vão realmente dar aquela vaga no curso para a menina que tem pernas bonitas. Muitos dirigentes vão convidar para cargos de chefia os "puxa-saco" do gabinete. E você vai começar a achar que não valeu a pena toda a sua dedicação e empenho, porque quem levou os louros do seu trabalho, foi o chefe que assinou o relatório, o parecer, ou a nota-técnica que você escreveu. Você vai perceber que a meritocracia será, inúmeras vezes, amassada e jogada no lixo, como um pedaço de papel qualquer. E não adianta ficar chateadinho, porque injustiças acontecem em todo lugar do mundo. Já cansei de dizer aqui, que normalmente a gente só consegue alguma boa oportunidade na polícia quando os "titulares" estão de férias, de licença ou impedidos de alguma outra forma. Até que, de tanto cobrir os furos dos titulares, você passa a ser visto como um deles. Por isso que eu sempre digo: esteja preparado, porque quando uma chance dessas chegar, você não vai desperdiçar, né?!

Reflitam, amigos, e fiquem espertos, porque "árvore que produz frutos é a que mais leva pedrada", então seja inteligente e deixe a pedrada passar. No trabalho policial se você não estiver incomodando ninguém tem alguma coisa errada. Quando você começar a crescer, algum colega vai passar a te tratar diferente, vai ficar de bico, vai começar a pegar no seu pé! A pancadaria começa porque você está crescendo e naturalmente vai ocupando os espaços antes ocupados pela mediocridade. E crescer é natural se você tem iniciativa, vitalidade, motivação, disponibilidade e está sempre disposto a aprender. Então, se você tá tranquilo aí e todo mundo te adora, desconfie.

É claro que tenho um bizu especial para as meninas. Cheguei achando que por sermos minoria as mulheres policiais seriam naturalmente unidas e mutuamente cooperativas. Não são. Mulheres na polícia também competem, também comparam, também sabotam e também menosprezam suas semelhantes. Um coronel falou assim pra mim uma vez: "As mulheres tinham tudo pra dominar o mundo. Não dominam porque são desunidas". Triste, né? Na minha experiência, só percebi duas situações excepcionais, quais sejam, quando você está num nível muito superior às demais ou muito inferior.

Pra fechar, deixo com vocês o exemplo Kathrine Switzer, primeira mulher a incomodar participar oficialmente da Maratona de Boston. A qual foi perseguida pelo diretor da prova, que tentou agarrá-la e tirar o número 261 de suas costas. A imagem de Kathrine sendo acossada tornou-se icônica e tranformou-a em uma conhecida defensora da igualdade de direitos entre homens e mulheres. As mulheres só começaram a correr oficialmente a maratona de Boston em 1972.

Nas palavras dela:

"Estava me sentindo feliz, (durante a corrida). E então, no caminhão onde ficava a imprensa, os jornalistas começaram a provocar o diretor da prova, Jock Semple, dizendo coisas como "tem uma garota na sua corrida". Ele se irritou e passou a me perseguir. 'Saia da minha prova, ele berrava, e tentava arrancar o número das minhas costas. Meu técnico começou a gritar para que me largasse. Semple insistitu, e então meu namorado acertou-o com o ombro, ele caiu e foi deixado para trás".(Fonte: Folha de São Paulo).

Aí, é disso que eu tô falando.